O MITO DA TORRE DE BABEL E OS PADRÕES DE SEGURANÇA DE ALIMENTOS?
- Silvia Berenguer
- 23 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Babel em hebraico quer dizer “confusão”. Conta-se, no livro do Gênesis (Antigo Testamento), que os homens descobriram uma planície na Babilônia e depressa começaram a povoar a terra e a construir uma torre altíssima. A torre deveria chegar aos céus, igualando os homens aos deuses. Deus (Iavé) desceu para ver a cidade e a torre e disse: “Vejamos: se isto é o que eles já são capazes de fazer, sendo um só povo com uma só língua, não haverá limites para tudo o que ousarem fazer. Vamos descer e que a língua deles comece a diferenciar-se noutras línguas, de forma que uns não entendam os outros”. E assim, cessou a construção daquela cidade.
Por analogia, podemos afirmar que existe uma Torre de Babel instalada no mercado de alimentos e bebidas. As organizações precisam das normas para poder demonstrar a seus clientes como garantem qualidade e segurança, e assim, gerar credibilidade. No ano 2000, havia muitas normas privadas e nacionais disponíveis para atender a essa necessidade.
Sim, é preciso considerar que existe uma hierarquia entre as normas, do mesmo modo que existe hierarquia na legislação de um país. Há normas empresariais, de associações, nacionais e internacionais, cada uma atendendo a interesses específicos, conforme os mercados que as reconhecem.
Múltiplas normas com requisitos equivalentes ou duplicados geram custos sem contribuir efetivamente para melhorar a segurança de alimentos. Assim, a indústria mundial de alimentos e bebidas solicitou à ISO que elaborasse um padrão internacional.
A ISO (Internacional Organization for Standardization) é uma organização internacional independente, não governamental, composta por 162 órgãos nacionais de normalização (que escrevem normas, por exemplo, a ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas). Seus padrões são utilizados como base para o comércio internacional em geral, em quase todos os assuntos.
Foi assim que em 2005 surgiu a ISO 22000, primeira e única norma internacional de sistema de gestão de segurança de alimentos da história. Esperava-se que a ISO 22000 eliminaria a necessidade de padrões duplicados e de nível inferior, mas isso ainda não ocorreu.
A ISO 22000 foi publicada sem detalhar os requisitos de boas práticas e não foi aceita pelas grandes multinacionais de alimentos no escopo da Global Food Safety Iniciative (GFSI). Tais requisitos de boas práticas variam conforme o elo da cadeia produtiva, por exemplo, o ambiente agrícola é diferente do ambiente industrial. Assim, a ISO lentamente vem publicando os requisitos que faltam em normas complementares de boas práticas, as ISO/TS 22002-n partes, uma para cada elo da cadeia produtiva de alimentos.
Enquanto isso, a Torre de Babel continua, e nós mortais, teremos que lidar com os múltiplos idiomas na terra.
TEXTO: Trecho da palestra na I Conferência Internacional de Segurança de Alimentos em 09/04/2014 - Feira Brasil Alimenta, Bento Gonçalves/RS, Brasil.
FOTO: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam a linguagem um do outro”. (Iavé, Deus hebraico, temeroso com o desenvolvimento do povo).
PINTURA: Pieter Brueghel O Velho, 1536
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